quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Quer uma moeda?

Estar ou não estar na zona do euro?

A recente entrada da Estônia no euro é um lembrete oportuno à Irlanda dos bônus e armadilhas de uma moeda única

por Brendan Keenan

Pequena e corajosa Estônia. Tendo escapado da União Soviética e encarado a ira do urso russo em várias ocasiões desde então, este minúsculo país de 1,3 milhão de pessoas agora juntou-se ao euro. Essa gente é brava, mas está boa da cabeça?

Na verdade, a entrada da Estônia é um lembrete oportuno do que o euro deve ser, e não é. É oportuno porque, na Irlanda, esses argumentos foram esquecidos no minuto em que aquelas estranhas cédulas novas apareceram nos caixas eletrônicos.

Estamos pagando um preço terrível por aquela amnésia e estamos tendo problemas para comprometer-nos com o tipo de análise racional que precedia a entrada – apesar de que quase todos estavam a favor da adesão.

Há aqueles que dizem que deveríamos deixar a moeda única, mas você fará uma difícil busca pelos detalhes de como tal evento poderia ser organizado e o que aconteceria depois.

Aqueles a cargo do assunto dizem que nunca devemos contemplar nada do tipo, mas você fará uma procura ainda mais difícil para encontrar qualquer análise detalhada de nossos líderes sobre as conseqüências de continuar a ser membro e do que acontecerá conosco se continuarmos a sê-lo.

A Estônia também oferece algumas duras lições para aqueles que anseiam pela vida sem as restrições do euro. Ela também foi espalhafatosa nos empréstimos e sofreu uma quebra horrível. A queda de 14 por cento na produção foi quase na escala irlandesa – e ela é o país mais pobre na União Europeia. Mesmo que ainda não fosse membro, a simples existência do euro exerceu uma influência nociva.

Não é necessário estar no euro para obter empréstimos em euro. Então a pobre pequena Estônia, como a Irlanda, teve acesso a todo o crédito que queria através do pool alemão de poupanças em euro, fornecidas por bancos estrangeiros – principalmente suecos. E a Suécia também não está na zona do euro.

Eles próprios tendo quase ido a bancarrota nos anos 90, sendo resgatados com sucesso, os bancos suecos se meteram novamente em todo tipo de problema, desta vez nos estados bálticos. Para cunhar uma frase, você pode manter um país fora do euro, mas não pode manter o euro fora do país.

Assim como outros europeus do leste, os estonianos foram capazes de conseguir hipotecas baratas através de empréstimos em euro. Mas eles correram o risco de suas moedas nacionais caírem e o custo dos empréstimos aumentar. Isso foi precisamente o que ocorreu em alguns casos, especialmente na Hungria – como muito bem sabem muitos irlandeses que investem em propriedades.

Essa gente é brava, mas está boa da cabeça?

A dívida estoniana ainda será dívida estrangeira, mas agora é em sua própria moeda. Tendo visto as calamidades do ano passado, eles não estarão celebrando a entrada como os membros mais antigos. Mas a perspectiva de manter seus empréstimos na moeda em que eles foram feitos é um poderoso incentivo a aderir.

Qualquer país que deixasse o euro sob pressão se veria até o pescoço de dívidas em moeda estrangeira. Aqueles que tiverem boa memória saberão que dívida externa excessiva é uma restrição ainda mais severa do que déficits governamentais.

Quanto a estes, após um programa de austeridade pela quebra, as finanças públicas da Estônia estão totalmente dentro das regras para adesão ao euro, algo que ilustra uma das falhas fundamentais destas: elas não levam em conta a dívida privada.

Seria bem melhor se eles o tivessem feito quando o euro foi formado. Melhor ainda se os governos tivessem monitorado o débito privado mais de perto. Tendo tido a bolha do euro antes de ter o euro, o mais novo membro começará obrigado a reduzir seu débito total.

Entretanto, a força das finanças públicas estonianas vai ajudar. Diferentemente da década passada, credores estão avaliando a solvência dos governos país por país. A Irlanda ainda está
segura pela pinça dos altos empréstimos do governo e da grande dívida privada. Doloroso como deve ser tal aperto, ele reflete melhor a realidade do que dar índices alemães a todos, como aconteceu nos primeiros 10 anos da moeda única.

Mas o caso da Estônia também faz lembrar as questões fundamentais à frente da Irlanda em 1999. Primeiro,  a de ordem política. Os estados bálticos teoricamente possuem a defesa na máquina militar da OTAN contra o vizinho gigante que no passado os absorveu. Mas muitos ali pensam que o “poder suave” da União Europeia e da adesão ao euro devem ser, verdadeiramente, uma proteção melhor. Parece que Moscou, com alguma frequência, sente o mesmo.

As escolhas estratégicas da Irlanda são menos rígidas, mas são reais. Enquanto existir uma moeda europeia, qual seria a posição de uma Irlanda que não pertencesse a ela?

Seria ela uma esperta Hong Kong ou Singapura do Atlântico, que poderia usar agilmente sua independência financeira para sua vantagem; ou uma impotente e mal sucedida estranha – provavelmente membro não-oficial da zona da libra esterlina, por decisão dos mercados? As opiniões devem variar, mas a escolha é tão fundamental quanto sempre foi.

Tradução do artigo To be or not to be in the eurozone?, publicado no jornal irlandês Irish Independent em 09 de janeiro de 2011.

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